terça-feira, 29 de agosto de 2017

Stress nas relações e experiências laborais - Causa ou Sintoma???



Olá!
Muitas vezes você chega à casa exausto(a), irritadiço(a), com dor de cabeça ou um apetite avassalador, depois de um dia extenuante de trabalho? Percebe que sua paciência está por um fio, bem como a sua tolerância ao barulho ou às demandas das crianças, cônjuge ou demais familiares/amigos(as)?
Bem... esse artigo é para si!
Tenho recebido com alguma frequência, clientes cuja queixa principal, ou seja, motivo que os levam à procurar por um profissional da saúde (nomeadamente um psicólogo), está relacionado, sobretudo, ao elevado nível de stress, resultante das relações e experiências laborais.
Podemos listas rapidamente algumas situações causadoras de stress: a alta competitividade no mundo dos negócios e consequente pressão para atingir "objetivos" (cada vez mais exigentes), horários rotativos, baixos salários, falta de recursos ou condições de trabalho saudáveis, ausência de planos de carreira, escassos investimentos em treinamentos, assédio e coação nas relações hierárquicas, falta de reconhecimento, motivação e possibilidade de gestão dos processos de trabalho, relacionamento entre pares, instabilidade política e económica... etc., etc., etc...
Realidade é que passamos efetivamente, mais de 9 horas diárias no local de trabalho, 5 dias na semana (no mínimo) ... São sensivelmente, mais de 180 horas mensais ou 2.160 horas anuais! 
Durante esse período, lidamos com a pressão natural das nossas atividades, sejam elas de cariz mais intelectual ou físico, com melhores ou piores condições de trabalho, localização geográfica ou acessibilidade. Para além disso, convivemos com colegas, supervisores e demais membros hierárquicos, cada qual com suas características de personalidade, "modus operandi" e feitio...
Isso inclui carácter, capacidade de gestão das emoções, nível de tolerância, flexibilidade... uma infinidade de quesitos! E não podemos esquecer que se aplicam também a nós, aos nossos clientes, alunos, pacientes, fornecedores, vendedores, subordinados, etc... Não, decididamente não é uma relação simples. Todos, ou quase todos, precisamos trabalhar, ocorre que o nosso "sistema" é inteligente e eficaz e nos sinaliza quando algo não vai bem... Então é altura de mudar alguma coisa!
Sabemos que o corpo humano produz hormonas e que essas substâncias químicas, fabricadas pelo sistema endócrino, ou por neurónios altamente especializados, funcionam como um regulador (por indução ou inibição) em outros órgãos e regiões do corpo. 
Em geral as hormonas trabalham devagar e agem por muito tempo, regulando o crescimento, o o desenvolvimento, a reprodução e as funções de muitos tecidos, bem como os processos metabólicos do organismo.
Pois bem, ocorre que consoante os nossos sentimentos e emoções (medo, alegria, prazer, raiva, frustração), o corpo produz e segrega, ou suprime a produção dessas hormonas. Para ter uma ideia e compreender a importância da relação mente-corpo, a melatonina, por exemplo, é uma hormona indutora do sono, já a serotonina é responsável pela manutenção da atividade diurna, controle do despertar e apetite, a dopamina por sua vez, aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Quando vivemos reiteradas situações de ameaça (real ou imaginária), experienciadas através de sucessivos confrontos e conflitos e seus correspondentes sentimentos de medo/e ou cólera, as consequências para a saúde são geralmente nocivas, já que causam o desequilíbrio, e, portanto, a "desorganização" de todo o "sistema".
Agora se imagine numa situação ligeiramente desconfortável que tenha surgido no trabalho, uma situação recente... Não tenha pressa... observe o corpo..., as emoções e o que pensa acerca de si mesmo(a) que seja negativo... Se imagine agora noutra situação laboral, com um nível de perturbação/desconforto maior que na situação anterior... observe o corpo e as emoções... 
Percebeu que ao evocarmos mentalmente uma situação perturbadora, notamos a representação física e emocional dessa mesma experiência? Ou seja, toda a experiência é ao mesmo tempo uma experiência mental, emocional e física/somática (referente ao corpo).
Apesar disso, muitas pessoas vivem tão "desligadas/desconectadas" do próprio corpo, que têm dificuldade em perceber essa relação. Uma vez que os sintomas físicos são percecionados pelo sujeito como algo que o assola de "fora para dentro" e não de "dentro para fora", é mais difícil buscar o tratamento adequado, que passa por conhecer ou reconhecer as causas que estão subjacentes aos "sintomas".
Todo o sintoma é um sinalizador de desequilíbrio mente-corpo. Dores, inflamações e infeções, alergias e problemas respiratórios, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, distúrbios alimentares e sexuais... 
Como equacionar algo tão complexo e multidimensional??? 
Existem diversos caminhos para quem decide se conhecer, se responsabilizar pelos próprios infortúnios e fazer escolhas mais conscientes; psicoterapia e suas diversas abordagens, onde destaco naturalmente o EMDR e Brainspotting, Técnicas de Relaxamento e Visualização, Yoga, Mindfulness (também conhecido como atenção plena, é uma forma de estar presente a si, aos outros e ao meio à sua volta a cada momento)...
Espero que esse artigo lhe possa ser útil. Pense acerca de sua saúde, suas relações e nível de satisfação com os vários setores da sua vida. Todos temos o direito e o dever de ser feliz e saudável, ainda que o caminho para se atingir esses e outros objetivos, possa ser complexo é possível! Sempre! 
Ana Saladrigas


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Por um fio! Suicídio na adolescência



Seja por questões de cunho religioso, moral, filosófico ou quaisquer outros, falar em suicídio é sempre um tema difícil, delicado, com contornos subtis, e transversais…

Falar em suicídio na infância e adolescência, é por isso um assunto interdito – que ninguém tem a intenção de ouvir e muito menos, refletir e discutir, até por uma questão de “pretensa proteção”. Contudo, as ideias de morte também podem surgir como uma estratégia dos jovens para lidar com problemas existenciais, como a compreensão do sentido da vida e da morte.

Segundo dados de 2012 da agência da ONU, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, sendo esses números subestimados, por diversos fatores que não cabem aqui discutir. O suicídio vem aumentando entre a população jovem nas últimas décadas, sendo que os adolescentes representam, atualmente, o grupo de maior risco.

O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos!

Quando pensamos em jovens, associamos a essa fase da vida, maioritariamente, experiências positivas. Um elevado número de adolescentes, entretanto, comete suicídio, em parte, por questões como a solidão, aqui entendida como isolamento, quer emotivo ou social, ausência de amizades significativas, em quem confiem e possam partilhar seus temores e emoções, problemas de adaptação e baixo rendimento escolar, etc.

As exigências sociais e psicológicas impostas pelo crescimento, bem como as mudanças físicas e emocionais, o desenvolvimento de novos papéis, a tensão em adquirir novas habilidades e enfrentar diversos desafios, acarretam stress elevado e contínuo, que podem impulsionar muitos jovens a desenvolverem pensamentos e comportamentos suicidas.

Com relação às diferenças de género, as tentativas de suicídio são mais frequentes nas raparigas, porém, o suicídio consumado é maior nos rapazes, pois eles se utilizam de meios mais agressivos em seus propósitos.

Setenta e cinco por cento dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda.  Nos países com alto desenvolvimento socioeconómico, a relação entre suicídio e distúrbios psiquiátricos/psicológicos, sobretudo a depressão, abuso de álcool/drogas, está bem estabelecida. Contudo, a maioria dos suicídios ocorrem de forma impulsiva – uma reação a um momento de crise, um colapso na capacidade de lidar com as adversidades inerentes a vida (problemas económicos, rutura de relacionamentos afetivos, etc.), que, entretanto esconde sempre um mal estar antigo, às vezes tão longo quanto a idade da vítima.

Outros fatores como exposição à violência intrafamiliar, abandono em tenra idade, história de abuso físico ou sexual, transtornos de humor e personalidade, impulsividade, presença de eventos estressores ao longo da vida, suporte social e afetivo deficitários, suicídio de um membro da família, deceção amorosa, homossexualidade/transsexualidade, bullying, oposição familiar a relacionamentos sexuais, condições de saúde desfavoráveis, baixa autoestima, dificuldade de aprendizagem, dentre outros conflitos familiares, também estão fortemente associados com o comportamento suicida.

Dentre os principais fatores de risco, destaca-se a depressão, que tem papel fundamental no desenvolvimento de pensamentos e comportamentos de morte. A presença de sintomas depressivos - como sentimentos de tristeza, desesperança, falta de motivação, diminuição do interesse ou prazer, perda ou ganho significativo de peso, problemas de sono, capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, dentre outros - é um importante fator de risco para o suicídio. Vale ressaltar que os adolescentes com transtorno depressivo maior apresentam, em geral, humor irritável e instável, com frequentes episódios de explosão e de raiva.

Conhecer os principais fatores de risco associados ao suicídio e as diferentes formas de manifestação dos sinais a ele associados, pode ser um passo importante para o planeamento de programas de prevenção.

As taxas de suicídio também são elevadas em certos grupos, sobretudo os que sofrem com discriminação, como homossexuais, bissexuais, transgéneros e intersexuais (LGBTI), refugiados e migrantes.

Contudo, o maior fator de risco para o suicídio, são tentativas anteriores fracassadas. A prevenção não tem sido tratada de forma adequada, devido à falta de consciência de que o suicídio é um grave problema de saúde pública! Para que se possa atuar de maneira preventiva diante dos comportamentos suicidas, é preciso estar ciente e alerta para os diversos fatores de risco e de proteção.

Não subestime as alterações de comportamento dos V/ filhos! Nem tudo são manifestações típicas da adolescência.

Lamentavelmente é essa a realidade, queiramos ou não compreender, assimilar ou aceitar como legítima.






segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Há a possibilidade de se escrever uma nova história ou continuar a que já vinha sendo traçada.


Noutro dia, uma pessoa muito querida, partilhou comigo o texto que abaixo reproduzo, após a devida autorização da sua autora.
Quando o li, senti uma certa nostalgia e pensei nas diversas vezes que algo semelhante se passou comigo... Refletir sobre a passagem do tempo e sobre o tempo que dispomos uns com os outros... Espero que também gostem! Bom proveito!

"É tão bom quando um caderno, uma agenda, um bloco de notas ou uma caderneta chega ao meio. Aquela página unida, com uma costura ao centro. Sabe-se que a metade do que existe já foi, está preenchido, foi ocupado. Entretanto, ainda há a mesma quantidade de páginas a serem preenchidas daí em diante. Há a possibilidade de se escrever uma nova história ou continuar a que já vinha sendo traçada. É até possível rasgar as páginas já escritas, mas não faz muito sentido, a marca das páginas rasgadas, que não estão mais aí, significam (talvez) mais do que se ainda estivessem, não serão páginas apagadas, será a evidência do desejo de que elas nunca tivessem sido escritas, de arrependimento. E há ainda a outra parte a ser escrita, então, se as páginas forem arrancadas, a história será incompleta. 

O que aconteceria se soubéssemos quantas páginas de cadernos teríamos para escrever a nossa história com cada um com quem nos relacionamos ao longo da vida? E se soubéssemos quando ela está na metade? O quanto ainda poderemos escrever? Para quase tudo na vida se pensa em um ciclo, composto por princípio, meio e fim. Observa-se isso no próprio ciclo da vida: infância, maturidade e velhice. Nós que aqui estamos temos a chance de analisar tal processo, mas há de se salientar o fato de que nem para todos o ciclo se cumpre. Há também amizades que acabam, amores que fogem sem se despedir, que somem do mundo ou apenas da vida do outro em um piscar de olhos. Não haverá mais página alguma para ser escrita nessa história.

Na agenda, controlamos, na vida, não. O que se há de fazer? Escrever sempre o verso mais belo possível, com ou sem rima, mas que faça (muito) sentido".


M. C. V

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

BEM ME QUERO!: Como detetar se você está numa relação saudável?

BEM ME QUERO!: Como detetar se você está numa relação saudável?

Como detetar se você está numa relação saudável?


Ainda que dezenas de vezes eu pense em partilhar convosco, algumas reflexões, indagações ou simples “devaneios metafísicos”, constantemente me deparo com compromissos e também muitas “distrações”, que não raramente, me desencaminham do real objetivo.
Sempre gostei de escrever, desde muito “menina” vivia com cadernos a tiracolo, que se transformavam em “diários secretos” (não tão secretos assim), porquê minha mãe lia-os de “cabo a rabo”, o que obviamente causava-me grande indignação, constrangimentos, muitas discussões e não só…
Verdade seja dita, creio ter deixado um pouco o “velho hábito”, também por alguma dificuldade linguística, que atribuo ao facto de ser brasileira e morar há 12 anos em Portugal… Ou seja, já desaprendi como se escreve corretamente o “português do Brasil” e não domino as regras gramaticais, sobretudo no que diz respeito ao uso dos verbos, no “português europeu”. Assim, posso afirmar que a minha escrita, fruto da migração, tornou-se uma idiossincrasia.
Portanto, ainda que possa vir a ferir algumas suscetibilidades, me perdoem tanto brasileiras (os) como portuguesas (es)!
Estou no carro, numa tarde de sábado (isso foi ontem), cinzento e chuvoso, à espera do meu filho mais novo, que está no treino de “Basket”. Como tenho de esperá-lo por mais de hora e meia, resolvo aproveitar esse tempo para escrever alguma coisa de jeito! Procuro por caneta (que de preferência escreva) e algum papel (encontro toneladas de faturas de supermercado e catálogos promocionais) e finalmente entrego-me ao ato, sem pestanejar (sei que para nós brasileiros estas frases soam “um bocado”, estranhas)…
A primeira ideia que surge é escrever sobre “relações tóxicas”, porquê mensalmente acompanho dezenas de pessoas que mantêm vínculos “sanguessugas”, ou como o PE. Fábio de Melo refere em seu livro – Quem Me Roubou de Mim? – indivíduos cujos parceiros (as), “sequestraram a subjetividade do outro”.
Contudo, a fim de romper a retórica de que nós psicólogos, estamos sempre a retratar problemas, achei mais pertinente (ainda mais agora que o frio está à porta), falar sobre ligações saudáveis!
Mas o que é ou deveria ser uma relação salubre??? Ainda que cada indivíduo possa ter diferentes expetativas e conceitos acerca de tema tão vasto e profundo, imagino que algumas premissas sejam fundamentais e “se calhar”, universais… Estar com o outro, seja este outro (a) quem quer que seja, deve “acrescentar” (enriquecer, adicionar) e “edificar” (construir, induzir ao bem e à virtude) o parceiro (a), tornando a vida em comum um processo de partilha, tolerância e autoconhecimento recíproco.
Numa relação saudável há que coexistir o “par” e o “particular”, ou seja, há que ter “espaço” (lugar), para cada indivíduo desenvolver às suas próprias capacidades e interesses, bem como exprimir livremente e sem “amarras” ou “reticências”, seus pensamentos, emoções ou ideologias (religiosas, políticas ou sociais).
Numa ligação construtiva, cada elemento sente-se “incondicionalmente” respeitado e valorizado na sua essência e igualmente desenvolve ou aprimora recursos e estratégias para proporcionar ao outro elemento, a mesma capacidade de “acolhimento” e “satisfação”.
Não, uma relação saudável não é e nunca será perfeita, porquê somos seres imperfeitos e em constante desenvolvimento (físico, emocional, psicológico e social), mas sem dúvida será uma ligação com equilíbrio, equidade e solidariedade. Pessoas que se unem para partilhar uma vida ou parte dela e que estabelecem um vínculo onde não existe espaço para discussões infundadas, desrespeito, desconfiança. Viver um relacionamento salutar é não perder tempo em “discutir a relação” e sim vivê-la; explorar sensações, emoções, partilhar momentos, perspetivar o futuro e recordar com satisfação o passado.
Sugiro que nesse momento, faça um exercício bastante simples. Imagine viver a sua relação (assim, da forma que está nos últimos meses), nos próximos cinco, dez anos ou 20 anos… Veja quais são as emoções e reações físicas, que esse pensamento desencadeia. Feche os olhos e observe atentamente.
Se você vive uma relação saudável, seu corpo e suas emoções manifestar-se-ão dessa maneira! O corpo é sempre o melhor sinalizador. Caso contrário, reflita, fique atento (a) e procure apoio de um profissional.
Excelente semana para todas e todos!

Ana Saladrigas

domingo, 27 de março de 2016


Re-significar a Morte para honrar a Vida!

A morte e o morrer são sempre temas sensíveis de abordar, sobretudo porque tocam a todos nós e aos que conhecemos direta ou indiretamente e diz respeito às experiências do passado, presente e futuro, do qual ninguém fica indiferente.
Contudo, ainda que desde o primeiro suspiro de vida, esteja implícito o derradeiro momento da morte, ninguém (geralmente), nos ensina a morrer!

Com frequência somos “impedidos” de manter um “contato saudável” com a morte, que geralmente ou é tratada como um tema “tabu” e por isso nunca assunto natural de conversas entre familiares e amigos, ou tema de extrema “banalização” (consoante diversos fatores que não cabem aqui, descortinar).

A perda de um ente querido é sem sombra de dúvida uma experiência devastadora – a teoria da vinculação de Bowlby (1980 cit. por Sanders, 1999) diz respeito aos laços afetivos que são criados pela familiaridade e proximidade com as figuras parentais no início da vida. Eles surgem da necessidade que se tem de se sentir seguro e protegido.

A morte não é pensada como um evento natural da vida, ao contrário, é colocada habitualmente num futuro distante e sempre relacionada ao outro. Sentimentos negativos afloram com a morte - insucesso, impotência, rancor, indignação, dor, culpa, perplexidade, desamparo, injustiça diante da perda, etc.

A morte na cultura ocidental, talvez represente de forma mais traumática o sentimento de perda, sobretudo porque evitamos pensar na hipótese de “deixar de ter”, seja o que for! A sociedade e a família mudaram a maneira de ver e “viver” a morte, ainda que a religião, cultura, rituais mortuários, experiências anteriores e muitos outros fatores interfiram na forma como representamos e enfrentamos a morte e o morrer.

Na sociedade capitalista, produtiva e supostamente “saudável”, não existe lugar para a morte, que fica sempre à margem, a espreita de outra “vítima”. A morte não é um castigo, todos nós, bons ou não, vamos morrer! Não existe morte “boa” ou “má” – qualquer morte implica dor, sofrimento, pesar, tristeza…
Do ponto de vista psicológico, existem quatro tarefas essenciais no processo de luto, que devem ser concretizadas para que o equilíbrio seja restabelecido: 

Aceitar a realidade da perda
A aceitação da perda envolve não apenas um processo cognitivo (intelectual), mas sobretudo emocional, que demora o seu tempo cronológico e varia muito de pessoa para pessoa. Os rituais tradicionais (funeral, missas, ou outros consoante a religião), ajudam muitos enlutados a avançarem na aceitação da perda.

Elaborar a dor da perda
A pessoa em luto tem que ter “espaço” para vivenciar a dor causada pela perda (evitar ou suprimir a expressão dessa dor ira provavelmente, prolongar o processo do luto).

Ajustar-se a um ambiente em que o falecido está ausente
Ajustar-se a um novo ambiente tem diferentes significados, dependendo da relação que se tinha com a pessoa falecida e os vários papéis que ela desempenhava. Ainda assim envolve geralmente ajustamentos externos (funcionamento diário no mundo), ajustamentos internos (sentido de si mesmo) e ajustamento de crenças (valores, crenças, considerações sobre o mundo).

Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e prosseguir com a vida.
As memórias de uma relação significativa vão sempre permanecer! Contudo, de acordo com Volkan (cit. por Worden, 1991), o processo de luto termina, quando o enlutado deixar de ter necessidade de reativar a representação do falecido, com uma intensidade exagerada no quotidiano.

Essa parece ser a tarefa mais difícil de alcançar – algumas pessoas ficam condicionadas (presas) a ela e não raro, tomam consciência disso muito tempo depois, quando percebem que as suas vidas ficaram estagnadas após a perda.

Quando uma pessoa consegue recordar, falar e partilhar experiências do falecido sem dor, ainda que com saudades e permite-se reinvestir as suas emoções na vida e nos vivos, podemos dizer efetivamente que o processo do luto está concluído.

A morte demanda aceitação, renuncia, compreensão, aprendizagem e reposicionamentos… Não, não é fácil, mas é preciso seguir adiante, ultrapassar limites, crenças e a própria dor!


Ana Saladrigas

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A vida à dois requer empenho!



Mulheres e homens percecionam as relações afetivas, amorosas e sexuais de maneiras e intensidades diferentes, fruto de modelos e papéis que remontam aos tempos paleolíticos, ainda que continuem inscritos até hoje no nosso ADN… Não há como escapar!
No exercício da minha profissão, acompanho experiências e formas de relacionamentos distintos entre homens e mulheres; não existe um modelo que abarque todas as dimensões, contudo posso reiterar que as espectativas de ambos são muito distintas! Isso confere frustração, instabilidade emocional, baixa autoestima e sofrimento, tanto no sexo masculino como no feminino.
As mulheres, sobretudo as mais “maduras” são mais exigentes e esperam dos homens algumas atitudes e características de personalidade, que passam completamente desapercebidas pelo sexo oposto!
Ainda que cada pessoa e cada relação tenham as suas necessidades e particularidades e que não haja nenhuma “receita” para relacionamentos “perfeitos”, o certo é que algumas atitudes fazem a diferença e contribuem, ou não, para a manutenção de uma vida em conjunto com maior ou menor grau de satisfação.
As mulheres valorizam a educação, gentileza e cordialidade, esperam respeito e sinceridade, ainda que a frontalidade possa magoar -  a isso chama-se lealdade!
As mulheres esperam dos parceiros amorosos ATITUDES – é frustrante para uma mulher quando os homens dizem frases como “o que decidires está bem”, “faça como achares melhor” (mas isso é o que já fazemos quando não estamos numa relação!). É imprescindível nos dias que correm a divisão das tarefas, a tomada de decisão e a responsabilidade inerente de quem desejou assumir uma relação, uma família e tudo o que isso realmente implica, sobretudo numa altura de tantos desafios profissionais e familiares.
A rotina, a “mesmice” do dia-a-dia, cria incondicionalmente um espaço de algum acomodamento e desilusão, que é preciso colmatar através de pequenas, mas poderosas atitudes! As mulheres e os homens, gostam de ser surpreendidos! O fator surpresa desencadeia uma avalanche de descargas hormonais e no caso de uma surpresa positiva, consequentemente bem-estar! E surpreender não é assim tão difícil!
Apanhar os filhos na escola e deixar na casa dos avós para um jantar romântico ao meio da semana, um banho a dois logo pela manhã, uma SMS “apimentada” ou foto sensual no meio de uma tarde chuvosa… Solte a imaginação! Pequenos gestos “esquentam” uma relação, basta começar!
Mulheres esperam ser valorizadas pelos companheiros e isso não significa receber elogios que soem exagerados ou desproporcionais, mas é importante sentirmo-nos únicas e especiais (quem não precisa não é mesmo ?!). Não devemos perder oportunidades de reforçar características ou atitudes que apreciamos (chamamos de reforço positivo), caso contrário essas particularidades pulverizam-se no “Tempo” e “Espaço” da relação.
Não há nada mais desencorajador para uma mulher que arranjar-se para um encontro ou jantar (cuidado com o cabelo, uma roupa sensual, um perfume sedutor) e o companheiro nem dar por isso! Os homens muitas vezes, sobretudo quando já estão numa relação, tem a tendência de descuidarem-se da própria aparência, tornam-se mais “desligados”… A atração física e  intelectual (para as mulheres é imprescindível admirar o seu homem) é um importante estímulo para a manutenção do desejo sexual, por isso algo que precisamos sempre que possível “alimentar”. As mulheres sentem-se atraídas por pequenos pormenores!
Ser confiante e transmitir confiança é também vital para uma relação. Por mais envolvido ou envolvida que uma pessoa esteja, precisa dar espaço ao outro. Somos seres sociais e necessitamos interagir com outras pessoas e com nós próprios, sim porque não temos todos os mesmos interesses e aptidões e tão pouco os mesmos “times”. Nenhuma relação é uma ilha e se inicialmente (quando estamos apaixonados) isso até parece ter alguma “piada”, com o tempo vira um pesadelo! A liberdade de ir e vir, ter amigos e amigas que não sejam comuns, participar de eventos distintos, em nada compromete a relação – deve haver espaço para o desenvolvimento dos diferentes papéis sociais! (filha (o), mãe (pai), irmã (irmão), aluna (aluno), profissional, mulher (homem), etc.).
Fundamental em qualquer relação existir o desejo de crescer, desenvolver-se, ou seja, criar metas para o futuro, sejam elas a curto, médio ou longo prazo. Podem ser “simples” ou mais arrojadas como (arrumar um novo emprego, estudar algo diferente, trocar de carro, realizar uma viagem)… As pessoas precisam ter sonhos, alguma ambição, desejo e vontade de crescer, necessidade de perseguir um caminho em busca de um objetivo, sonhar junto e individualmente, pois novamente não vamos ter os mesmos desejos, mas deverá haver espaço para as prioridades de cada elemento do casal e ambos devem apoiar-se mutuamente para o alcance dessas metas!
O companheirismo é uma atitude implícita aos relacionamentos, contudo as pessoas queixam-se de sentirem-se cada vez mais sozinhas! Se nos anos 50 – 60 o grande vilão destruídor das famílias foi o então televisor, atualmente a disputa é bem mais acirrada! (Tablets, smartphones, redes sociais e outras tecnologias), que apesar de serem parte integrante da socialização atual, tem comprometido gravemente as relações afetivas e de intimidade. Há que utilizar essa panaceia ao favor das relações, equacionar o tempo que dispensamos às centenas de aplicativos, redes sociais, etc. e àquele que dedicamos aos amigos, companheiros, familiares, filhos, etc.
Como tudo na vida, uma relação também tem seus momentos menos bons, alguns até mesmo muito difíceis, quase insuportáveis. Nestas situações é necessário manter-se presente (sem contudo, ser invasivo), transmitir confiança, oferecer apoio e conforto, buscar compreender o outro, ainda que a nossa perspetiva acerca do problema possa ser diferente!
Respeitar fundamentalmente a dor do outro, legitimá-la, sendo assim um elemento imprescindível na superação do problema, seja ele individual, do casal ou familiar. A vida à dois, ou em família, requer empenho, dedicação, flexibilidade, humildade e resiliência (capacidade para lidar com as dificuldades inerentes e conseguir ferramentas para ultrapassá-las).