quinta-feira, 7 de agosto de 2014

EXCELENTE ARTIGO SOBRE DEPRESSÃO! Em busca da cura.



As estimativas variam. Mas sem nos deixarmos seduzir pelo exagero, é muito provável que pelo menos um em cada dez de nós enfrente a depressão em algum momento da vida. Os sintomas são cruéis: incluem perda de interesse na vida, insônia, impotência, exaustão crônica e até mesmo aumento do risco de doenças, como cardiopatias. A [...]

As estimativas variam. Mas sem nos deixarmos seduzir pelo exagero, é muito provável que pelo menos um em cada dez de nós enfrente a depressão em algum momento da vida. Os sintomas são cruéis: incluem perda de interesse na vida, insônia, impotência, exaustão crônica e até mesmo aumento do risco de doenças, como cardiopatias. A patologia também leva ao isolamento, uma tendência agravada ainda mais pelo estigma associado ao quadro, o que faz com que tanta gente evite procurar tratamento. Quando não tratada, a depressão pode levar ao suicídio – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada 40 segundos uma pessoa atente contra a própria vida de forma direta. Todos esses fatores contribuem para que quadros depressivos sejam hoje considerados como principal causa de incapacitação.

Mas, afinal, o que leva alguém à depressão? A questão, tão complexa, pode ser compreendida sob vários olhares. Fatores genéticos e experiências vividas com pais na infância podem ter grande influência para o aparecimento da doença. Nada disso, porém, determina com certeza que a pessoa apresentará sintomas. Há características específicas de cada um que fazem com que pessoas diferentes reajam de formas diversas às mesmas experiências (veja artigo na pág. 22). Para a psicanálise, a depressão pode ser entendida como o rompimento da rede de sentidos e amparo. “É o momento em que o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta cercar; é o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade”, afirma a psicanalista Maria Rita Khel, autora do livro O tempo e o cão (Boitempo), ganhador do prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não ficção em 2010, que trata do tema da depressão. Algumas pessoas conseguem evitá-lo a vida toda, outras passam por ele em circunstâncias traumáticas e saem do outro lado. “Mas há os que não conhecem outro modo de existir; são órfãos da proteção imaginária do ‘amor’, trapezistas que oscilam no ar sem nenhuma rede protetora embaixo deles.”

O escritor americano Andrew Solomon, autor do livro O demônio do meio-dia (2002), no qual discorre amplamente sobre a depressão, escreve: “A depressão é uma imperfeição do amor”. Por cinco anos ele pesquisou a patologia – relatos de pacientes, causas e efeitos, tratamentos, hipóteses bioquímicas, estatísticas. Recolheu histórias de vida de dezenas de pessoas que passaram por crises depressivas. O trabalho é embasado em sua própria vivência de episódios de depressão.

Do ponto de vista estritamente biológico, há consenso de que a patologia resulta de um desequilíbrio químico no cérebro. E a serotonina é o principal “suspeito” de ser o vilão da história, já que muitos estudos têm relacionado a depressão a baixos níveis do neurotransmissor, o que dificulta a propagação de mensagens através das sinapses (os pequenos espaços entre os neurônios).

A teoria era de que um aumento nos níveis de serotonina deve retornar dinâmica neural e o humor para níveis “normais”. O primeiro medicamento baseado na hipótese de serotonina – fluoxetina, mais conhecida como Prozac – foi lançado no final dos anos 80 e quase todos os antidepressivos subsequentes têm operado com o mesmo princípio geral: manter os níveis de serotonina elevados, impedindo o cérebro de reabsorvê-los.

Mas há um porém: embora tais drogas permaneçam como ferramentas importantes no combate da depressão, esses produtos parecem estar ficando cada vez menos eficazes. Há duas décadas 1,5% da população dos Estados Unidos sofria de depressões que exigiam tratamento. Hoje, esse número subiu para 5%. Parece impossível não se perguntar se a doença cresce com o desenvolvimento da medicina ou se a indústria farmacêutica produz as doenças para os remédios que desenvolve, do mesmo modo que outros ramos empresariais criam mercados para seus produtos.

Estudos clínicos desenvolvidos entre 1980 e 1990 indicaram que essas drogas ajudariam em torno de 85% dos pacientes a entrar em remissão. Mas os estudos na década de 2000 mostraram que os antidepressivos-padrão funcionam apenas em 60% a 70% dos casos – um declínio ressaltado quando o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH, na sigla em inglês), em Bethesda, Maryland, publicou os resultados de uma ampla pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos. Ao contrário de inúmeros ensaios farmacêuticos – que muitas vezes “filtram” participantes – este foi o primeiro a medir a eficácia dos antidepressivos em uma amostra da população do mundo real.

O que pode explicar a aparente diminuição na potência de antidepressivos? Talvez os próprios fármacos nunca tenham sido tão eficazes como foi apregoado pela mídia. Para aprovar determinado medicamento, a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos, só requer dois estudos de grande escala para verificar se a droga é superior a um placebo. No entanto, as empresas farmacêuticas não têm obrigação de fornecer ao FDA todos os estudos que realizaram, apenas os positivos.

Se de um lado pesquisas recentes trazem resultados preocupantes, de outro é inegável que para inúmeras pessoas que sofrem de formas mais graves da patologia os medicamentos se caracterizam como sinal de esperança – ainda que não sejam soluções definitivas e prontas como tantos anseiam. Mesmo sabendo já de antemão que novos produtos não funcionarão igualmente bem para todos, eles trazem alguma esperança.

Uma dessas substâncias, ainda em estudo, voltada para pacientes resistentes aos antidepressivos é a cetamina (ou quetamina), anestésico já usado de maneira ilícita como alucinógeno. No maior estudo clínico até o momento, com 72 participantes, pesquisadores da Escola de Medicina Icahn, no hospital da Universidade Monte Sinai, em Nova York, descobriram que pessoas que não conseguiram responder a nenhum outro tratamento experimentaram alívio de pensamentos suicidas.

Cientistas ainda não sabem precisar o risco da droga, nem quando estará liberada para consumo, mas estudos mostram que, aplicada por meio de injeção, tem potencial de desbloquear receptores de glutamato (neurotransmissores que estimulam as sinapses e, segundo vários pesquisadores, têm níveis muito baixos no cérebro de pessoas deprimidas). Uma vantagem da droga é fazer efeito em menos de uma hora, principalmente considerando que os antidepressivos que existem atualmente no mercado levam pelo menos 15 dias para começar a fazer efeito – uma eternidade para quem está mergulhado no sofrimento. O glutamato desempenha papel fundamental no cérebro, favorecendo processos complexos como aprendizagem, motivação e memória e plasticidade. Vários pesquisadores acreditam que os níveis de glutamato são muito baixos no cérebro da pessoa deprimida, assim como acontece com os de serotonina.

Mas é aí que termina a semelhança. Em vez de simplesmente ajudar no transporte de mensagens entre os neurônios, o neurotransmissor pode influir na plasticidade, contribuindo para incrementar a capacidade de reparação dos neurônios. Essa hipótese é coerente com uma teoria que vem ganhando destaque nos últimos anos, segundo a qual a depressão faz com que alguns dos prolongamentos das extremidades dos neurônios, os dendritos, tendam a murchar. É como se as sinapses se tornassem “pontes quebradas”, o que impede a transmissão das mensagens. Entre outras evidências para apoiar essa teoria está a constatação de que cada episódio sucessivo de depressão parece deixar as pessoas mais vulneráveis a um episódio subsequente.

Outra técnica experimental no Brasil, que também acena como perspectiva para pessoas em estado grave, que não respondem a outros tratamentos, é a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês). Nesse caso, os médicos colocam cirurgicamente dois eletrodos no cérebro. Os dispositivos, ligados a uma bateria presa ao tronco do paciente, enviam impulsos elétricos constantes. A proposta é que a estimulação promova a liberação de neurotransmissores, causando a diminuição dos sintomas.

Já a estimulação magnética transcraniana (EMT) superficial, reconhecida há um ano no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina, favorece a circulação sanguínea por meio da ação de ondas eletromagnéticas. Indolor e não invasivo, o tratamento estimula a atividade cerebral e é indicado para pessoas que não respondem aos medicamentos nem às psicoterapias. Atualmente pesquisadores estão testando também formas profundas de estimulação.

Ao mesmo tempo, inúmeros estudos já demonstraram que no caso de depressões leves – as mais comuns – o desempenho dos antidepressivos equivale ao do placebo (substância neutra que pode desencadear efeitos psicológicos que tendem a não se manter). Diante disso, cada vez mais psicólogos, médicos e outros profissionais da área da saúde se dão conta de que uma única intervenção pode ser pouco para aliviar o sofrimento dos pacientes: a associação de vários tratamentos, que se adequem a cada pessoa, parece ser o mais eficaz. Nesse sentido, a psicoterapia aparece como um caminho fundamental na busca da saúde.

Há, por exemplo, psicólogos que defendem a ideia de que deprimidos crônicos tendem a se sentir desamparados ao entrar em contato com outras pessoas – e esse sintoma frequentemente tem raízes nas experiências de negligência emocional nos primeiros anos de vida. Assim, trabalham com o objetivo de familiarizar esses pacientes com experiências interpessoais, ajudando-os a perceber que a forma como agem causa efeito nas outras pessoas e no ambiente. Para tanto, em vários momentos o psicoterapeuta diz à pessoa como se sente em relação aos comportamentos dela. Seguindo essa linha, o psicólogo James McCullough, da Universidade Virginia Commonwealth, em Richmond, desenvolveu uma abordagem embasada na teoria do psicólogo suíço Jean Piaget, priorizando o desenvolvimento de habilidades sociais. O sistema de psicoterapia análise cognitivo-comportamental (CBASP, sigla em inglês de cognitive behavioral analysis system of psychotherapy) foi criado nos anos 70, mas somente em 2000 foi divulgada uma orientação prática para psicoterapeutas. McCullough argumenta que pacientes com depressão crônica muitas vezes se mantêm em um estágio anterior do desenvolvimento social e interpessoal: a fase pré-operatória, que, segundo Piaget, engloba do segundo ao sétimo ano de vida.

Nessa idade, as crianças ainda pensam de forma autocentrada, não conseguem se colocar intelectual e emocionalmente na perspectiva de outra pessoa de forma aprofundada. -McCullough relatou que seus pacientes com depressão crônica tinham baixa capacidade de avaliar o efeito de seu comportamento sobre as pessoas. Em sua opinião, isso reforçaria neles a impressão de não conseguir influenciar os outros, o que lhes causaria a sensação de estarem indefesos, à mercê do meio ambiente.

O procedimento prevê que o terapeuta se coloque de forma ativa, sem pretensão de manter a neutralidade, apresentando suas ideias e sentimentos – diferentemente do que em geral ocorre na terapia clássica. Tradicionalmente, a psicoterapia busca modificar vivências fora da relação terapêutica, como conflitos no trabalho ou lembranças de um acontecimento traumático. Mas o paciente costuma transpor suas experiências de aprendizagem anteriores para muitas pessoas – especialmente para o terapeuta. O conceito de transferência foi desenvolvido por Sigmund Freud no início do século passado e desde então vem sendo aprofundado por vários psicanalistas. Embora adeptos de outras abordagens – como a terapia cognitivo-comportamental – muitas vezes combatam as ideias propostas pela psicanálise, o CBASP toma por base esse movimento psíquico e propõe que o próprio terapeuta estimule o desencadeamento de pensamentos, sentimentos e comportamentos depressivos no paciente – com o intuito de modificar padrões de reação inadequados.

Nessa abordagem, ao relatar as próprias reações ao comportamento dos pacientes, o psicoterapeuta espera que as pessoas percebam que quando agem de forma depreciativa e hostil normalmente causam consternação ou irritação nos outros. Além disso, se dão conta de que, com atitudes simpáticas e generosas, despertam desejo de proximidade e gratidão e ainda notam que têm mais chances de obter ajuda com pedidos francos de apoio. No decorrer da terapia, o paciente reconhece que o terapeuta se comporta de forma diferente das pessoas de referência marcantes de sua infância.

O fato é que, qualquer que seja o caminho para reverter ou atenuar os sintomas depressivos, ele possivelmente não será definitivo e, menos ainda, milagroso. Entregar-se ao processo psicoterapêutico requer comprometimento, bem como a adesão ao tratamento medicamentoso, ou mesmo a busca de técnicas usadas para formas mais graves de depressão. Não há dúvida de que seria muito prático comprar na farmácia um frasco com “cápsulas da felicidade”, como há 20 ou 30 anos sonhávamos que seria possível – hoje, no entanto, se sabe que esse é um cenário distante. Cada vez mais, o cuidado consigo mesmo, a meditação e a prática frequente de exercícios físicos são valorizados. E se além de levar em conta esses caminhos em direção a si for possível aceitar que há momentos em que (na contramão do que insistentemente apregoa a mídia) o mais saudável mesmo é ficar quietinho no próprio canto – e triste, por que não? –, melhor ainda. Talvez a postura ensimesmada ajude a compreender que mais do que buscar soluções prontas é necessário construir possibilidades de bem-estar. Sim, pois elas não vêm prontas. E, por incrível que pareça, há momentos (e casos) em que não brigar com a depressão pode ser a melhor forma de combater essa ameaça.

Extraído do site: http://blogs.estadao.com.br/pensar-psi/em-busca-da-cura-da-depressao/


domingo, 11 de maio de 2014

TRÁFICO DE SERES HUMANOS - A ESCRAVIDÃO DO SÉCULO XXI


Na primeira década do século XXI (2001 a 2010) ocorreram muitas descobertas científicas, a Revista Science fez uma seleção das dez mais marcantes, confesso que fiquei surpresa ao saber que avanços na área da “cosmologia” permitiu criar uma sólida teoria que prevê que o universo é composto de apenas 4,56% de matéria comum, 22,7% de matéria escura e 72,8% de energia escura, ou ainda que nove em cada 10 células do corpo são constituídas por micróbios, só no sistema digestivo mais de mil espécies possuem 100 vezes mais ADN do que nosso próprio corpo!

Mas porque comecei a minha explanação acerca do tráfico de seres humanos com isso? Partimos do pressuposto que detemos conhecimento; somos todos conhecedores daquilo que desconhecemos e desconhecemos porque não somos suficientemente humildes para conhecer ou re-conhecer.

Para muitas pessoas, o Tráfico de Seres Humanos é apenas uma “lenda urbana”, mais um “tema” para as novelas, algo fictício, difícil de acreditar. Estamos em pleno século XXI! Os Direitos Humanos essenciais devem ser respeitados! Aos menos na União Europeia, já que ainda não o são na América do Sul, África e Ásia, onde centenas de milhares de pessoas, sobretudo mulheres e crianças, são vítimas de todo o tipo de exploração.

Estamos na era do homem moderno, que com um ipod deixou de ter o mundo aos seus pés, para o ter nas suas mãos. Uma sociedade mercantilista, que trata as pessoas como “coisas” e  que portanto “coisificam” sentimentos e ações. Cada qual olha por si e não mede esforços para atingir os fins, uma sociedade em colapso, estrangulada por Leis que se sobrepõe, que não se fazem cumprir, por processos que se avolumam, atropelam e interpelam. Uma sociedade doente, sem valor, sem moral, escrúpulos ou ética.

Sinto-me exausta, exausta de palavras vazias, perdidas, exausta de ações que param na metade do caminho, porque o caminho é longo, tortuoso e difícil. Estamos na era do “não te metas”, “não fales”, “não dê a conhecer o que pensas”… Mas não foi para ter este direito salvaguardado que lutamos séculos a fio?

Não percebo a dialética, sem a cinética, ou a cibernética, percebo de pessoas de carne e osso, com sangue e vísceras, com hormonas e feromonas… Percebo de indivíduos com passado, presente e sem perspetiva de futuro, percebo de pessoas que buscam ávidas por alguém que as estenda a mão, simplesmente porque precisam que reconheçam e validem o seu sofrimento, acreditem na sua história, na sua trajetória e nas palavras não ditas, no olhar vago, vazio… "Atrás de uma narrativa pode haver outra história" (OTSH). Percebo de gente humilde, analfabeta e letrada, gente que tem a vida do avesso e mesmo assim nunca desistem de lutar, ultrapassar as adversidades da vida, as tempestades e terremotos, gente que cai e levanta, mesmo sabendo que vai novamente cair e se possível for vão novamente levantar, porque a vida é feita de caminhos, escolhas, “não escolhas”, pessoas boas e más, pessoas a quem a vida tudo dá e pessoas a quem a vida tira tudo, mesmo aquilo que nunca tiveram!

Sim, estou exausta das pessoas que só tem corpo e cujas ações não condizem com as palavras, cuja voz “empoderada” nada fala e cujo poder nada serve, a não ser a si próprios. O Tráfico de Seres Humanos é uma violação fundamental dos direitos humanos,  é um fenômeno cujo foco é a exploração em condições de trabalho e vida degradantes, semelhantes à escravatura!

Em 2000, surge o Protocolo da ONU para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas que  define “Tráfico de Pessoas” como o “recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso de força, rapto, coação, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade da vítima em relação ao explorador, ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa, que tenha controlo sobre outra pessoa, para fins de exploração”.
“Embora os números sejam muito contraditórios, estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas no mundo sejam reféns deste flagelo social, mais de 800 mil somente na União Europeia. Entretanto os dados conhecidos são muito inferiores aos reais, ou pouco consistentes, uma vez que estão baseados em métodos e números estimativos” (Dra. Maria Grazia Giammarinaro – Juíza Tribunal de Roma - Itália).
Novos aspetos do Tráfico Humano nos colocam diante de muitos desafios para os quais a Legislação ainda não prevê as devidas respostas, apesar das novas Diretivas do Parlamento e Conselho Europeu.
É um fenómeno em constante crescimento, que se reproduz nos mais diversos locais, seja através do Tráfico para Exploração Laboral (agricultura, comércio, construção civil, indústria, pesca, turismo, trabalhos domésticos e todos os serviços que podem ser subcontratados, através de intermediários), Exploração Sexual (indústria do sexo e prostituição), Tráfico para Venda de Mulheres e Crianças, Tráfico para Mendicidade, Extração de Órgãos, etc.
Os meios utilizados para o efeito vão desde a burla, coação, ameaças, subjugação psicológica, aprisionamento, etc. Os traficantes fazem crer que a situação em que o subjugado se encontra é afinal a sua melhor opção.
Dada a sua complexidade, Interdisciplinaridade, Intersecionalidade e Internacionalização, torna-se cada vez mais difícil detetar e intervir de forma célere e eficaz. É fundamental dar visibilidade a este fenômeno, ou seja alterar a perceção que a sociedade, a polícia, os técnicos e a própria vítima têm acerca da situação, bem como fundamentar as práticas preventivas e punitivas, além da otimização dos recursos disponíveis no sentido de melhorar a proteção aos seres humanos em situação de maior vulnerabilidade. Trata-se pois de um fenômeno de grandes dimensões, transversal a todos os Cidadãos, que movimenta milhões de euros.
Outro aspeto que chama a atenção é sobretudo a tolerância das pessoas circundantes e da própria vítima acerca deste tipo de exploração, sobretudo laboral, ainda mais numa altura de forte recessão económica e importantes “cortes” nas Contribuições Sociais.
Diversos fatores contribuem para a disseminação do Tráfico de Seres Humanos, sejam socioeconómicos e políticos, tanto individuais como estruturantes, já que os motivos que levam as pessoas a serem gravemente exploradas são diversos e complexos.
Num esforço para encontrar os motivos pelos quais as pessoas se tornam vítimas de tráfico, os grandes fenómenos globais, como a globalização, a pobreza, a imigração ilegal, a falta de acesso à educação, as desigualdades socioeconómicas das mulheres e a falta de oportunidades de emprego, têm sido implicados como causas estruturantes do Tráfico de Seres Humanos.

A questão da migração, a considerável diminuição das oportunidades de imigração legal, a disparidade económica entre as diversas regiões do mundo, contribui para a existência de um grande número de potenciais trabalhadores. Os desfasamentos entre as políticas de imigração e as realidades do mercado servem para tornar uma grande parte da migração transfronteiriça “ilegal”, aumentando a situação de vulnerabilidade dos potenciais trabalhadores imigrantes. Esta situação é ainda mais agravada, pois a ilegalidade acarreta consigo a falta de reconhecimento dos direitos destes povos nos seus pontos de destino.

Além de vulnerabilidades estruturais, alguns especialistas e organizações têm apontado anteriores abusos físicos, sexuais e emocionais, por exemplo em cenários de conflito bélico, ou por parte de familiares ou conjugues como uma vulnerabilidade adicional para a ocorrência de exploração sexual na prostituição ou em outras situações de trabalho.

A maior parte dos casos de tráfico é nacional ou regional, mas também há muitos casos de tráfico de longa distância. A Europa é por norma o destino final das vítimas, provenientes de diversos locais, traficadas sobretudo da Ásia. O Continente Americano (Norte e Sul) é importante tanto como destino de origem, como de destino das vítimas de tráfico.

O tráfico humano afeta todos os países do mundo, enquanto países de origem, de trânsito ou de destino, ou mesmo como uma combinação de todas estas vertentes. O tráfico ocorre, muitas vezes em países pouco desenvolvidos, onde as pessoas se tornam vulneráveis ao tráfico em virtude da pobreza, de situação de pós-conflito ou de outras condicionantes. A luta contra a discriminação nos países de origem e a conscientização da magnitude do problema, que abarca também a sociedade nos países de destino, torna-se fundamental para reforçar a resposta social circundante, a ajuda, apoio, suporte, qualificação jurídica, legal, assim como alterações nas políticas de trabalho, apoio jurídico, identificação das vítimas e suporte antes, durante e depois do Processo Criminal.

Ana Saladrigas
Acerca do Colóquio Internacional do Tráfico de Seres Humanos / Coimbra Abril 2014

sábado, 8 de março de 2014

Agradecimento às Mulheres!!!


Quero expressar a minha admiração às centenas de mulheres excepcionais
que tive o prazer de conhecer
no decorrer destes quase 17 anos de carreira!
Marias, Amélias, Anas e Fabianas, Teresas, Madalenas
e Cristinas, Sandras, Adrianas, Marianas... 
Histórias de dor, sofrimento, traumas sucessivos... 
Desamparo, agressões, frustrações.
Mas acima de tudo, garra, coragem, determinação!
Agradeço profundamente, a oportunidade de estar 
frente a frente com cada uma de vocês! 
Obrigada pela confiança em permitir que juntas
percorramos os mais difíceis caminhos para finalmente lá à frente,
as ver partir, altivas, "empoderadas", donas de si! 
Com lágrimas nos olhos, um nó na garganta e um orgulho daqueles,
eu as as vejo Seguir rumo às novas paragens e novos horizontes!
Acompanhar esse processo de renascimento não tem preço!
Só entrega e amor!
Muito, muito obrigada!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

EMDR: Uma Terapia para Tratamento de Traumas


Quando um trauma  ocorre ele  passa a interferir em  nossas vidas de forma direta ou indireta através  de nossos  comportamentos  e atitudes. O trauma, na maioria das vezes, limita e  empobrece nossa  qualidade  de  relacionamentos   interferindo diretamente em nosso bem-estar e em nossa saúde  emocional. Existe  uma gama de   acontecimentos  que   podem  causar um  trauma,   mas  sua   instalação está diretamente relacionada à capacidade  emocional, que inclui  preparo  e  maturidade do  indivíduo  para    lidar  com  aquela  situação  assustadora;  desta forma,  uma ocorrência   pode ser   extremamente  traumatizante   para uma pessoa e ser mais facilmente elaborada por outra. 

Podemos entender o trauma como uma experiência de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, que põe em risco a segurança ou integridade física do paciente ou da(s) pessoa(s) amada(s), p.ex.: catástrofe natural, acidente, assalto, seqüestro, estupro (ou outro crime), testemunhar a morte violenta de outros, ser vítima de tortura física ou emocional, sofrer mudança súbita e ameaçadora na posição social e/ou nas relações do indivíduo, tais como perdas múltiplas, etc. São sintomas típicos de estresse pós-traumático, episódios de repetidas revivescências do trauma sob a forma de memórias intrusas (flashbacks) ou sonhos, algumas vezes ocorrendo embotamento emocional, afastamento de outras pessoas, evitação de atividades e situações que possam de alguma forma recordar o trauma.

O QUE É EMDR? 
EMDR – Eye Movement Desensitization and Reprocessing
(Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares)

O EMDR é um método revolucionário criado pela Dra. Francine Shapiro, psicóloga americana - PhD, especialmente empregado no tratamento de transtorno de stress traumático e pós-traumático, quadros de ansiedade, depressão, fobias, síndrome do pânico, instalação de recursos positivos e outros. EMDR é a nova terapia especialmente útil para a transformação das lembranças traumáticas. De uma forma revolucionária ajuda a libertar a mente, o corpo e abrir o coração. É uma forma de ver a conduta disfuncional, quando se acredita que a sua origem está em incidentes traumáticos do passado. Quando estes são identificados de uma forma sábia e hábil, podem ser processados e integrados, o que resulta em condutas funcionais e apropriadas. 

Parnell, L. (1997) Transforming Trauma: EMDR. New York: WW Norton & Co. p.39

A ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA recomenda o EMDR como um dos principais métodos da atualidade para o tratamento de situações traumáticas. Novas aplicações do método têm se voltado para o tratamento de doenças psicossomáticas. O referencial teórico da psicoterapia de processamento encontra respaldo em descobertas recentes no campo neuropsicológico, e os resultados clínicos são obtidos com rapidez. Estudos recentes indicam o sucesso e a manutenção das conquistas terapêuticas.

Como Funciona o EMDR? 

O EMDR é um trabalho que exige profissional clínico devidamente capacitado e certificado pelo EMDR Institute, dos Estados Unidos, para sua implementação. Atualmente utilizamos, além dos movimentos oculares, outras formas de estimulação bilateral, como a auditiva e a tátil. Para algumas pessoas estas formas dão melhores resultados. O EMDR é um trabalho complexo que exige o conhecimento da história clínica do paciente, diagnóstico apropriado, desenvolvimento de uma relação empática terapeuta/cliente e a preparação do paciente para o EMDR em si. Os movimentos são realizados em conjunto com a psicoterapia para ajudar o cliente a integrar os traumas processados. 

A teoria dos Movimentos Oculares Rápidos durante o sono REM é a mais relevante para explicar o êxito do EMDR. Parece que todos nós estamos processando as experiências do dia durante as etapas do sono REM. Em situações normais, parece que o cérebro "revisa" as experiências do dia, processa e arquiva as lembranças no seu enorme banco de dados cerebral. No entanto, quando temos alguma experiência traumática, parece que o cérebro não consegue processar o evento e o incidente permanece armazenado como uma espécie de "nó neurológico". É possível que os pesadelos sejam tentativas fracassadas do cérebro de processar as lembranças traumáticas. 

Com o EMDR o cérebro recebe a ajuda necessária para processar o fato e arquivá-lo. Perde-se, assim, a carga negativa associada à situação, e muitas vezes se recuperam as lembranças positivas vinculadas a isso e que antes não se podiam perceber. Muitas pessoas têm a sensação de que a lembrança agora está realmente no passado e que já não incomoda quando se recordam dela. Uma cliente disse, depois do processamento de uma experiência de abuso sexual: "dói, mas já não fere. 

Como ocorre uma sessão de EMDR? 

A aplicação do EMDR é feita a partir da escolha de um problema específico a ser trabalhado. O cliente traz um tema perturbador, que pode ser a lembrança de um evento traumático ou um pensamento negativo, por exemplo. Procura manter em mente uma cena, um sentimento, um som, um pensamento e ainda as crenças negativas relacionados ao problema, enquanto o terapeuta conduz os movimentos bilaterais. 

Nosso cérebro possui recursos para realizar a cura de suas feridas emocionais, da mesma forma que nosso corpo cura nossas feridas físicas. O processo de EMDR direciona nosso cérebro para a cura. O processamento acelerado de informações propiciado pelo EMDR é feito de forma particular, ou seja, cada um irá processar suas associações, baseada em sua experiência pessoal e seus valores. 

Os estímulos bilaterais são repetidos até que a lembrança seja menos perturbadora e possa ser associada a pensamentos e crenças pessoais mais positivas. É importante informar que o EMDR não é um tipo de hipnose e que a pessoa pode interromper os movimentos a qualquer momento. A Dra. Shapiro diz que "quando a informação é integrada de forma positiva e resolvida de forma adaptativa, sempre estará disponível para ser usada no futuro. O EMDR não tira nada que o cliente precise e nem lhe dá amnésia". (Parnell, 1997:72).

Um princípio fundamental da terapia com EMDR é que a saúde básica existe dentro de nós e o que o EMDR faz é tirar o bloqueio causado pelas imagens, crenças e sensações corporais negativas e permitir que o estado normal (de saúde) da pessoa surja (Parnell, 1997:72)

Numa comunicação pública a Dra. Shapiro disse: "se o corpo humano tem a capacidade de se curar das feridas físicas com relativa rapidez, por que não a mente?". 

O caráter de psicoterapia breve é mais uma das vantagens do método.

http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=11118

CARTA PELA COMPAIXÃO

O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, eqüidade e respeito.

É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, nos abstermos de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros - mesmo os nossos inimigos - é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.

Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres ~ a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião ~ a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo ~ garantir que os jovens recebam informações exatas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas ~ incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural ~ cultivar uma empatia bem-informada pelo sofrimento de todos os seres humanos - mesmo daqueles considerados inimigos.

É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes em uma determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica.

Extraído do site:
http://www.comitepaz.org.br/download/Carta%20pela%20Compaix%C3%A3o.pdf

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Terapia EMDR: O poder do olhar

Técnica é indicada para combater traumas psicológicos


Situações negativas do passado nem sempre são bem digeridas e, muitas vezes, memórias intrusas podem habitar-nos durante anos, décadas ou uma vida inteira. A Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares (EMDR – Eye Movement Desensitization and Retroprocessing) é um processo breve, situado entre a neurologia e a psicologia, e é especialmente indicada para combater traumas psicológicos.
Esta é uma "abordagem" com mais de 20 anos e foi descoberta casualmente por Francine Shapiro, uma psicóloga californiana, quando um dia contrariada e sujeita a pensamentos negativos passeava num parque e notara que pensamentos sombrios desapareciam quando, de forma espontânea, os seus olhos se moviam na diagonal, para a esquerda e direita e de cima para baixo.

Hoje, já transformada em modelo clínico, é usada no Mundo todo e muito aplicada para tratar veteranos de guerra ou refugiados em campos palestinianos, mas também para crises de ansiedade e imagens emocionais que provoquem sobressaltos inapropriados. A terapêutica é estabelecida em oito etapas bem precisas.

EMDR combina períodos de exposição com a simulação de distracções externas
EMDR combina períodos de exposição com a simulação de distracções externas
Michel Meignant, presidente da Federação Francesa de Psicoterapia e Psicanálise, é um entusiasta desta terapia e para provar a eficácia desta técnica percorreu o Mundo, filmou 350 sessões e submeteu-se a ele próprio ao método perante uma câmara de filmar, onde decidiu atravessar sofrimentos familiares. Existe mesmo um documentário da sua autoria sobre EMDR.

Memórias menos dolorosas


Mas, pode levar o seu tempo, segundo o médico psiquiatra. “Atrás de um acontecimento, bloqueado numa memória, podem estar outros bem dissimulados”, explicou. O EMDR trata, por isso, traumas isolados, como casos de incestos repetidos ao longo de vários anos, por exemplo. Michel Meignant explica ainda que a desaparição dos sintomas é “bastante espectacular” e que após uma sessão as más memórias são lembradas de forma não dolorosa.

EMDR Portugal define o processo como "um método de dessensibilização e reprocessamento de experiências emocionalmente traumáticas por meio de estimulação bilateral do cérebro, a qual promove a comunicação entre os dois hemisférios cerebrais". A Associação Psiquiátrica Americana recomenda o EMDR como um dos principais métodos da actualidade para o tratamento de situações traumáticas. Entretanto, novas aplicações têm sido voltadas para o tratamento de doenças psicossomáticas. Contudo, é um trabalho que exige um profissional clínico devidamente capacitado e certificado pelo EMDR Institute, dos Estados Unidos.
Extraído do site: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=41992&op=all