terça-feira, 29 de agosto de 2017

Stress nas relações e experiências laborais - Causa ou Sintoma???



Olá!
Muitas vezes você chega à casa exausto(a), irritadiço(a), com dor de cabeça ou um apetite avassalador, depois de um dia extenuante de trabalho? Percebe que sua paciência está por um fio, bem como a sua tolerância ao barulho ou às demandas das crianças, cônjuge ou demais familiares/amigos(as)?
Bem... esse artigo é para si!
Tenho recebido com alguma frequência, clientes cuja queixa principal, ou seja, motivo que os levam à procurar por um profissional da saúde (nomeadamente um psicólogo), está relacionado, sobretudo, ao elevado nível de stress, resultante das relações e experiências laborais.
Podemos listas rapidamente algumas situações causadoras de stress: a alta competitividade no mundo dos negócios e consequente pressão para atingir "objetivos" (cada vez mais exigentes), horários rotativos, baixos salários, falta de recursos ou condições de trabalho saudáveis, ausência de planos de carreira, escassos investimentos em treinamentos, assédio e coação nas relações hierárquicas, falta de reconhecimento, motivação e possibilidade de gestão dos processos de trabalho, relacionamento entre pares, instabilidade política e económica... etc., etc., etc...
Realidade é que passamos efetivamente, mais de 9 horas diárias no local de trabalho, 5 dias na semana (no mínimo) ... São sensivelmente, mais de 180 horas mensais ou 2.160 horas anuais! 
Durante esse período, lidamos com a pressão natural das nossas atividades, sejam elas de cariz mais intelectual ou físico, com melhores ou piores condições de trabalho, localização geográfica ou acessibilidade. Para além disso, convivemos com colegas, supervisores e demais membros hierárquicos, cada qual com suas características de personalidade, "modus operandi" e feitio...
Isso inclui carácter, capacidade de gestão das emoções, nível de tolerância, flexibilidade... uma infinidade de quesitos! E não podemos esquecer que se aplicam também a nós, aos nossos clientes, alunos, pacientes, fornecedores, vendedores, subordinados, etc... Não, decididamente não é uma relação simples. Todos, ou quase todos, precisamos trabalhar, ocorre que o nosso "sistema" é inteligente e eficaz e nos sinaliza quando algo não vai bem... Então é altura de mudar alguma coisa!
Sabemos que o corpo humano produz hormonas e que essas substâncias químicas, fabricadas pelo sistema endócrino, ou por neurónios altamente especializados, funcionam como um regulador (por indução ou inibição) em outros órgãos e regiões do corpo. 
Em geral as hormonas trabalham devagar e agem por muito tempo, regulando o crescimento, o o desenvolvimento, a reprodução e as funções de muitos tecidos, bem como os processos metabólicos do organismo.
Pois bem, ocorre que consoante os nossos sentimentos e emoções (medo, alegria, prazer, raiva, frustração), o corpo produz e segrega, ou suprime a produção dessas hormonas. Para ter uma ideia e compreender a importância da relação mente-corpo, a melatonina, por exemplo, é uma hormona indutora do sono, já a serotonina é responsável pela manutenção da atividade diurna, controle do despertar e apetite, a dopamina por sua vez, aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Quando vivemos reiteradas situações de ameaça (real ou imaginária), experienciadas através de sucessivos confrontos e conflitos e seus correspondentes sentimentos de medo/e ou cólera, as consequências para a saúde são geralmente nocivas, já que causam o desequilíbrio, e, portanto, a "desorganização" de todo o "sistema".
Agora se imagine numa situação ligeiramente desconfortável que tenha surgido no trabalho, uma situação recente... Não tenha pressa... observe o corpo..., as emoções e o que pensa acerca de si mesmo(a) que seja negativo... Se imagine agora noutra situação laboral, com um nível de perturbação/desconforto maior que na situação anterior... observe o corpo e as emoções... 
Percebeu que ao evocarmos mentalmente uma situação perturbadora, notamos a representação física e emocional dessa mesma experiência? Ou seja, toda a experiência é ao mesmo tempo uma experiência mental, emocional e física/somática (referente ao corpo).
Apesar disso, muitas pessoas vivem tão "desligadas/desconectadas" do próprio corpo, que têm dificuldade em perceber essa relação. Uma vez que os sintomas físicos são percecionados pelo sujeito como algo que o assola de "fora para dentro" e não de "dentro para fora", é mais difícil buscar o tratamento adequado, que passa por conhecer ou reconhecer as causas que estão subjacentes aos "sintomas".
Todo o sintoma é um sinalizador de desequilíbrio mente-corpo. Dores, inflamações e infeções, alergias e problemas respiratórios, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, distúrbios alimentares e sexuais... 
Como equacionar algo tão complexo e multidimensional??? 
Existem diversos caminhos para quem decide se conhecer, se responsabilizar pelos próprios infortúnios e fazer escolhas mais conscientes; psicoterapia e suas diversas abordagens, onde destaco naturalmente o EMDR e Brainspotting, Técnicas de Relaxamento e Visualização, Yoga, Mindfulness (também conhecido como atenção plena, é uma forma de estar presente a si, aos outros e ao meio à sua volta a cada momento)...
Espero que esse artigo lhe possa ser útil. Pense acerca de sua saúde, suas relações e nível de satisfação com os vários setores da sua vida. Todos temos o direito e o dever de ser feliz e saudável, ainda que o caminho para se atingir esses e outros objetivos, possa ser complexo é possível! Sempre! 
Ana Saladrigas


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Por um fio! Suicídio na adolescência



Seja por questões de cunho religioso, moral, filosófico ou quaisquer outros, falar em suicídio é sempre um tema difícil, delicado, com contornos subtis, e transversais…

Falar em suicídio na infância e adolescência, é por isso um assunto interdito – que ninguém tem a intenção de ouvir e muito menos, refletir e discutir, até por uma questão de “pretensa proteção”. Contudo, as ideias de morte também podem surgir como uma estratégia dos jovens para lidar com problemas existenciais, como a compreensão do sentido da vida e da morte.

Segundo dados de 2012 da agência da ONU, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, sendo esses números subestimados, por diversos fatores que não cabem aqui discutir. O suicídio vem aumentando entre a população jovem nas últimas décadas, sendo que os adolescentes representam, atualmente, o grupo de maior risco.

O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos!

Quando pensamos em jovens, associamos a essa fase da vida, maioritariamente, experiências positivas. Um elevado número de adolescentes, entretanto, comete suicídio, em parte, por questões como a solidão, aqui entendida como isolamento, quer emotivo ou social, ausência de amizades significativas, em quem confiem e possam partilhar seus temores e emoções, problemas de adaptação e baixo rendimento escolar, etc.

As exigências sociais e psicológicas impostas pelo crescimento, bem como as mudanças físicas e emocionais, o desenvolvimento de novos papéis, a tensão em adquirir novas habilidades e enfrentar diversos desafios, acarretam stress elevado e contínuo, que podem impulsionar muitos jovens a desenvolverem pensamentos e comportamentos suicidas.

Com relação às diferenças de género, as tentativas de suicídio são mais frequentes nas raparigas, porém, o suicídio consumado é maior nos rapazes, pois eles se utilizam de meios mais agressivos em seus propósitos.

Setenta e cinco por cento dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda.  Nos países com alto desenvolvimento socioeconómico, a relação entre suicídio e distúrbios psiquiátricos/psicológicos, sobretudo a depressão, abuso de álcool/drogas, está bem estabelecida. Contudo, a maioria dos suicídios ocorrem de forma impulsiva – uma reação a um momento de crise, um colapso na capacidade de lidar com as adversidades inerentes a vida (problemas económicos, rutura de relacionamentos afetivos, etc.), que, entretanto esconde sempre um mal estar antigo, às vezes tão longo quanto a idade da vítima.

Outros fatores como exposição à violência intrafamiliar, abandono em tenra idade, história de abuso físico ou sexual, transtornos de humor e personalidade, impulsividade, presença de eventos estressores ao longo da vida, suporte social e afetivo deficitários, suicídio de um membro da família, deceção amorosa, homossexualidade/transsexualidade, bullying, oposição familiar a relacionamentos sexuais, condições de saúde desfavoráveis, baixa autoestima, dificuldade de aprendizagem, dentre outros conflitos familiares, também estão fortemente associados com o comportamento suicida.

Dentre os principais fatores de risco, destaca-se a depressão, que tem papel fundamental no desenvolvimento de pensamentos e comportamentos de morte. A presença de sintomas depressivos - como sentimentos de tristeza, desesperança, falta de motivação, diminuição do interesse ou prazer, perda ou ganho significativo de peso, problemas de sono, capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, dentre outros - é um importante fator de risco para o suicídio. Vale ressaltar que os adolescentes com transtorno depressivo maior apresentam, em geral, humor irritável e instável, com frequentes episódios de explosão e de raiva.

Conhecer os principais fatores de risco associados ao suicídio e as diferentes formas de manifestação dos sinais a ele associados, pode ser um passo importante para o planeamento de programas de prevenção.

As taxas de suicídio também são elevadas em certos grupos, sobretudo os que sofrem com discriminação, como homossexuais, bissexuais, transgéneros e intersexuais (LGBTI), refugiados e migrantes.

Contudo, o maior fator de risco para o suicídio, são tentativas anteriores fracassadas. A prevenção não tem sido tratada de forma adequada, devido à falta de consciência de que o suicídio é um grave problema de saúde pública! Para que se possa atuar de maneira preventiva diante dos comportamentos suicidas, é preciso estar ciente e alerta para os diversos fatores de risco e de proteção.

Não subestime as alterações de comportamento dos V/ filhos! Nem tudo são manifestações típicas da adolescência.

Lamentavelmente é essa a realidade, queiramos ou não compreender, assimilar ou aceitar como legítima.