sexta-feira, 10 de junho de 2011

Não se faz mais psicoterapia como antes... EMDR uma nova opção

Maria levantou da mesa, respirou fundo e subiu a escada rolante pela primeira vez em 58 anos de vida. Helena chegou no consultório e contou que conseguiu entrar no aparelho de ressonância magnética, com tranqüilidade. Rodrigo voltou a conduzir o automóvel pela primeira vez depois do acidente em que morreram seus amigos. Patrícia fez os exames de sangue depois de ter perdido o medo das agulhas. João Pedro comentou do assalto armado à sua casa que durou 5 horas: “Ah, aquilo agora virou história para contar em happy hour”. O que essas pessoas têm em comum é que se submeteram a uma psicoterapia revolucionária, chamada EMDR  - Eye Movement Dessensitization and Reprocessing (Dessensibilização e Reprocessamento pelos Movimentos Oculares) descoberta por Dra. Francine Shapiro em 1987, nos Estados Unidos. De lá para cá, mais de cem mil terapeutas foram capacitados mundialmente, na abordagem que hoje, representa uma mudança de paradigma na psicoterapia. 

De forma acelerada e adaptativa, o EMDR “recria” de certa maneira o que acontece com as pessoas durante a etapa do sono - movimento rápido ocular (sono REM – Rapid Eye Movement), quando o cérebro, processa informação diária e deveria arquivá-la adaptativamente ao passado. Por alguma razão ainda não completamente compreendida, em determinadas situações, as pessoas não conseguem realizar este processamento de forma normal e saudável, de onde possivelmente, advém os pesadelos, sobressaltos, pensamentos intrusivos e obsessivos, ataques de pânico e em casos mais graves o Transtorno de Stress Pós-Traumático (TSPT) e suas conseqüências e em casos mais excepcionais, podem chegar aos Transtornos Dissociativos de Identidade, quando possuem historias de traumas crónicos,  repetitivos e constantes, especialmente na infância.

Para efetuar o EMDR, o psicoterapeuta deve capacitar-se junto a cursos credenciados, onde será ensinado de forma teórica e prática como manejar o protocolo de oito fases que estrutura o tratamento. Começando com a primeira fase onde o paciente partilha sua história clínica e o terapeuta identifica os traumas e lembranças dolorosas do paciente, que serão os alvos de tratamento em futuras sessões. Na segunda fase, instala-se recursos positivos para ajudar o paciente a enfrentar momentos difíceis dentro e fora da sessão, além de experimentar os diferentes movimentos bilaterais (visuais, auditivos e táteis), além de instruções acerca do processo do EMDR. Na terceira fase, “acessa-se" o arquivo cerebral a ser trabalhado através dos resgate das imagens, crenças, emoções e sensações, vinculadas ao evento chave em questão. Na quarta fase o terapeuta aplica os estímulos bilaterais que darão o “ arranque” ao cérebro, para que possa desenvolver o processamento, que resultará na dessensibilização da lembrança dolorosa ou trauma. Na quinta fase é possível substituir as crenças negativas e falsas a respeito daquilo que foi vivido por crenças positivas, que levarão o paciente a encontrar percepções adaptativas, àquilo que havia sido arquivado de maneira mal adaptativa e muitas vezes patológica. Na sexta fase verifica-se a existência (ou não) de perturbações corporais e a sessão termina na sétima fase, com instruções especificas sobre o que esperar entre sessões. Na oitava fase o paciente volta, faz-se uma avaliação dos resultados e prossegue-se com a evolução do tratamento: um novo alvo de tratamento caso o anterior já tenha se resolvido de maneira satisfatória, ou a elaboração mais profunda e completa do alvo inicial.

Importante deixar claro que as 8 fases descritas acima, podem durar 2, 3, 4, 5 ou mais sessões, embora o propósito do tratamento com EMDR seja obter os mais profundos e eficazes efeitos, no mais curto período de tempo, mantendo a estabilidade do indivído dentros dos sistemas familiar e social.

O que faz o EMDR ser percebido como uma mudança de paradigma? Primeiro, não é preciso falar para haver mudanças... Durante 120 anos fomos ensinados que o paciente deveria conversar e falar sobres suas dificuldades... (o “talking cure” que descrevia Freud). Mas com o EMDR, a fala pode ser mínima durante o período de reprocessamento cerebral, o que permite que o paciente possa trabalhar suas lembranças, em privado. Levando em consideração que muitos traumas são de carácter sexual ou humilhantes, o facto de não ter que entrar em detalhes, muitas vezes permite ao paciente o enfrentamento da lembrança sem tanto constrangimento.Segundo, a resolução da dificuldade se dá pela integração da informação neuronal, inicialmente dissociada nos hemisférios cerebrais. É comum que a lembrança dolorosa esteja arquivada no hemisfério direito e que a fala (área de Broca) que permite a atribuição de sentido ao evento, esteja no hemisfério esquerdo. A lembrança está desvinculada daquilo que poderia permitir ao paciente descrever em palavras o que lhe aconteceu (“não tenho palavras para lhe explicar o que me aconteceu” é um discurso comum entre pessoas traumatizadas, porque literalmente, não as têm). Ou a lembrança está desvinculada do sistema límbico e o paciente vive em um eterno estado de ansiedade e perigo sem saber porque e sem poder explicar para o seu cérebro, que o perigo passou. (Isso se constata através de tomografias cerebrais sofisticadas tais como PET scans, SPECT scans o ressonâncias magnéticas funcionais - fMRI). O EMDR integra essas informações e permite que se possa atribuir sentido ao ocorrido, o que "acalma" o sistema límbico atormentado.

O EMDR foi inicialmente desenvolvido para tratar traumas e os transtornos derivados, tais como abusos sexuais ou estupros, assaltos, ataques/cenas de violência, seqüela de guerra e de desastres naturais, etc. atualmente se aplica também no manejo de dor crônica - sabemos que a dor física tem componentes emocionais – e traumáticos – que costumam responder bem ao EMDR; no luto e depressão, fobias e desordem de pânico, dependência química e adicções. Ademais, tem se utilizado o EMDR para a instalação de recursos positivos, fortalecendo aquelas pessoas que trazem consigo, uma fragilidade inerente ou adquirida.

Extraído do site: EMDR Brasil
Adaptado para o Português (Portugal), por Ana Silva