segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Há a possibilidade de se escrever uma nova história ou continuar a que já vinha sendo traçada.


Noutro dia, uma pessoa muito querida, partilhou comigo o texto que abaixo reproduzo, após a devida autorização da sua autora.
Quando o li, senti uma certa nostalgia e pensei nas diversas vezes que algo semelhante se passou comigo... Refletir sobre a passagem do tempo e sobre o tempo que dispomos uns com os outros... Espero que também gostem! Bom proveito!

"É tão bom quando um caderno, uma agenda, um bloco de notas ou uma caderneta chega ao meio. Aquela página unida, com uma costura ao centro. Sabe-se que a metade do que existe já foi, está preenchido, foi ocupado. Entretanto, ainda há a mesma quantidade de páginas a serem preenchidas daí em diante. Há a possibilidade de se escrever uma nova história ou continuar a que já vinha sendo traçada. É até possível rasgar as páginas já escritas, mas não faz muito sentido, a marca das páginas rasgadas, que não estão mais aí, significam (talvez) mais do que se ainda estivessem, não serão páginas apagadas, será a evidência do desejo de que elas nunca tivessem sido escritas, de arrependimento. E há ainda a outra parte a ser escrita, então, se as páginas forem arrancadas, a história será incompleta. 

O que aconteceria se soubéssemos quantas páginas de cadernos teríamos para escrever a nossa história com cada um com quem nos relacionamos ao longo da vida? E se soubéssemos quando ela está na metade? O quanto ainda poderemos escrever? Para quase tudo na vida se pensa em um ciclo, composto por princípio, meio e fim. Observa-se isso no próprio ciclo da vida: infância, maturidade e velhice. Nós que aqui estamos temos a chance de analisar tal processo, mas há de se salientar o fato de que nem para todos o ciclo se cumpre. Há também amizades que acabam, amores que fogem sem se despedir, que somem do mundo ou apenas da vida do outro em um piscar de olhos. Não haverá mais página alguma para ser escrita nessa história.

Na agenda, controlamos, na vida, não. O que se há de fazer? Escrever sempre o verso mais belo possível, com ou sem rima, mas que faça (muito) sentido".


M. C. V

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

BEM ME QUERO!: Como detetar se você está numa relação saudável?

BEM ME QUERO!: Como detetar se você está numa relação saudável?

Como detetar se você está numa relação saudável?


Ainda que dezenas de vezes eu pense em partilhar convosco, algumas reflexões, indagações ou simples “devaneios metafísicos”, constantemente me deparo com compromissos e também muitas “distrações”, que não raramente, me desencaminham do real objetivo.
Sempre gostei de escrever, desde muito “menina” vivia com cadernos a tiracolo, que se transformavam em “diários secretos” (não tão secretos assim), porquê minha mãe lia-os de “cabo a rabo”, o que obviamente causava-me grande indignação, constrangimentos, muitas discussões e não só…
Verdade seja dita, creio ter deixado um pouco o “velho hábito”, também por alguma dificuldade linguística, que atribuo ao facto de ser brasileira e morar há 12 anos em Portugal… Ou seja, já desaprendi como se escreve corretamente o “português do Brasil” e não domino as regras gramaticais, sobretudo no que diz respeito ao uso dos verbos, no “português europeu”. Assim, posso afirmar que a minha escrita, fruto da migração, tornou-se uma idiossincrasia.
Portanto, ainda que possa vir a ferir algumas suscetibilidades, me perdoem tanto brasileiras (os) como portuguesas (es)!
Estou no carro, numa tarde de sábado (isso foi ontem), cinzento e chuvoso, à espera do meu filho mais novo, que está no treino de “Basket”. Como tenho de esperá-lo por mais de hora e meia, resolvo aproveitar esse tempo para escrever alguma coisa de jeito! Procuro por caneta (que de preferência escreva) e algum papel (encontro toneladas de faturas de supermercado e catálogos promocionais) e finalmente entrego-me ao ato, sem pestanejar (sei que para nós brasileiros estas frases soam “um bocado”, estranhas)…
A primeira ideia que surge é escrever sobre “relações tóxicas”, porquê mensalmente acompanho dezenas de pessoas que mantêm vínculos “sanguessugas”, ou como o PE. Fábio de Melo refere em seu livro – Quem Me Roubou de Mim? – indivíduos cujos parceiros (as), “sequestraram a subjetividade do outro”.
Contudo, a fim de romper a retórica de que nós psicólogos, estamos sempre a retratar problemas, achei mais pertinente (ainda mais agora que o frio está à porta), falar sobre ligações saudáveis!
Mas o que é ou deveria ser uma relação salubre??? Ainda que cada indivíduo possa ter diferentes expetativas e conceitos acerca de tema tão vasto e profundo, imagino que algumas premissas sejam fundamentais e “se calhar”, universais… Estar com o outro, seja este outro (a) quem quer que seja, deve “acrescentar” (enriquecer, adicionar) e “edificar” (construir, induzir ao bem e à virtude) o parceiro (a), tornando a vida em comum um processo de partilha, tolerância e autoconhecimento recíproco.
Numa relação saudável há que coexistir o “par” e o “particular”, ou seja, há que ter “espaço” (lugar), para cada indivíduo desenvolver às suas próprias capacidades e interesses, bem como exprimir livremente e sem “amarras” ou “reticências”, seus pensamentos, emoções ou ideologias (religiosas, políticas ou sociais).
Numa ligação construtiva, cada elemento sente-se “incondicionalmente” respeitado e valorizado na sua essência e igualmente desenvolve ou aprimora recursos e estratégias para proporcionar ao outro elemento, a mesma capacidade de “acolhimento” e “satisfação”.
Não, uma relação saudável não é e nunca será perfeita, porquê somos seres imperfeitos e em constante desenvolvimento (físico, emocional, psicológico e social), mas sem dúvida será uma ligação com equilíbrio, equidade e solidariedade. Pessoas que se unem para partilhar uma vida ou parte dela e que estabelecem um vínculo onde não existe espaço para discussões infundadas, desrespeito, desconfiança. Viver um relacionamento salutar é não perder tempo em “discutir a relação” e sim vivê-la; explorar sensações, emoções, partilhar momentos, perspetivar o futuro e recordar com satisfação o passado.
Sugiro que nesse momento, faça um exercício bastante simples. Imagine viver a sua relação (assim, da forma que está nos últimos meses), nos próximos cinco, dez anos ou 20 anos… Veja quais são as emoções e reações físicas, que esse pensamento desencadeia. Feche os olhos e observe atentamente.
Se você vive uma relação saudável, seu corpo e suas emoções manifestar-se-ão dessa maneira! O corpo é sempre o melhor sinalizador. Caso contrário, reflita, fique atento (a) e procure apoio de um profissional.
Excelente semana para todas e todos!

Ana Saladrigas