domingo, 20 de janeiro de 2013

Programas de Mobilidade Académica; um novo desafio!


No período de 05 a 14 de Dezembro, a Secretaria Especial do Gabinete para Assistência a Brasileiros, ministrou nas respectivas instalações das Universidades do Norte, uma Sessão Informativa, para os alunos dos diversos Programas de Mobilidade (PLI, Ciência sem Fronteiras, Santander, etc).


As Sessões objectivaram entre outros, a proximidade do Consulado junto as  comunidades de estudantes brasileiros, residentes em Portugal, a divulgação da rede de apoio psico-social e psicológica já existente, a fim de tentar colmatar certas lacunas que foram sendo observadas, desde a chegada dos alunos (em início de Setembro). Além de orientações acerca das situações práticas do dia-a-dia (tipo de roupas adequadas ao frio e onde adquiri-las, aquecimento da casa e gastos com energia, etc...), e aspectos psico-sociais e emocionais, inerentes ao processo de adaptação.

Outro factor preponderante foi a troca de informações, como contributo fundamental, para a melhoria dos serviços prestados de toda a rede, que viabilizam quer seja no Brasil ou em Portugal, os Programas de Mobilidade e sua expansão a curto e médio prazo. É indispensável a articulação dos "diversos saberes", a fim de salvaguardar  os  interesses dos milhares de alunos, que se encontram expatriados  e que tem como expectativas, o incremento académico e científico, promovido pelos respectivos intercâmbios.

Os diversos sectores universitários, responsáveis pela gestão destes alunos, oriundos dos diversos programas, expressaram após as sessões, o interesse e apoio incondicional, no estreitamento dos laços com o Consulado, através da Assistência Psicológica, para a troca de sinergias e elaboração de directrizes e projectos, de forma a  prestarmos todos, um serviço mais integrado e que responda mais eficazmente, as necessidades destes estudantes; nosso bem maior!O  crescente número de jovens Brasileiros que estão a ingressar nas universidades Portuguesas e a perspectiva cada vez maior deste novo fenómeno, fomenta a preocupação e a necessidade em estabelecer parcerias e relações de entreajuda. 

Os Programas de Mobilidade, proporcionam a estes jovens, uma oportunidade até então inimaginável, tanto do ponto de vista dos alunos, como do entorno; "uma ocasião fantástica a não perder, de forma alguma"! Todavia, no decorrer do processo de selecção, depararam-se com muitas informações e procedimentos contraditórios (seguro de viagem, seguro de saúde, PB4), além das frequentes demoras na emissão dos vistos, acarretando para alguns, atrasos consideráveis na viagem, com consequências desastrosas do ponto de vista psico-social, além da sobrecarga de stress. 

A maioria dos jovens estão satisfeitos com os cursos; Engenharia Química (FEUP) é o 14º melhor da Europa! Em Braga e perto da Universidade do Minho, localiza-se o Instituto Ibérico de Nanotecnologia/Laboratório Ibérico de Nanotecnologia - INL, patrocinado pelos governos Português e Espanhol e Comissão Europeia. Este Instituto terá um papel dinamizador no desenvolvimento das Nanotecnologias na Europa e em especial no Minho, assim como recursos tecnologicamente avançados. 

Sendo o Brasil um País multicultural, de dimensões e contrastes sócio-económicos colossais, depara-mo nos com jovens oriundos de locais com baixíssimos índices populacionais, que nunca saíram da região onde nasceram, de classes sociais modestas, que frequentam Universidades Federias com pouca expressividade académica, em contraste com jovens de grande poder aquisitivo, nascidos em grandes centros urbanos, com hábitos de deslocações Nacionais e Internacionais, estudantes das melhores Universidades do País e da América do Sul... Além disso, cada aluno tem uma história de vida e uma relação parental e social distintas, que acabam por descortinar-se no convívio diário com colegas de mesma nacionalidade, com realidades completamente díspares, intensificando sentimentos de "desenraizamento" e inadequação social, afectiva e até mesmo intelectual. 

Os problemas comuns do dia-a-dia, como a gestão académica e do lar, parecem intransponíveis, quando se vêem sozinhos, sem as figuras de vinculação e distantes das origens e de tudo o que os é peculiar, transformando estas experiências em algo assustador e desorganizador, do ponto de vista psicodinâmico e emocional (Homesickness).

Diversos factores corroboram com as dificuldades apresentadas por estes jovens, seja do ponto de vista académico, político, social, climático, psico-social, afectivo, etc. Os estudantes dos diversos Programas de Mobilidade, são na maioria jovens adultos com excelente rendimento académico nas universidades de origem, alguns com elevado sentido de responsabilidade, perfeccionistas, que se reconhecem como pessoas “ansiosas”, frente as situações novas ou de avaliação, com grande temor em “fracassar”, “desiludir” ou "não cumprir com as expectativas" que lhes foram/são depositadas, seja pelos pais, familiares, colegas, professores e o próprio País...

A sobrecarga dos factores stressores (expectativas demasiadas, alto custo do investimento e comprometimento, mudança para o Exterior), bem como as novas demandas sociais, afectivas e atmosféricas ao qual são expostos (menos luminosidade, frio e chuva, alterações alimentares,  gestão financeira, do lar, linguagem, rendimento académico), assim como situações inesperadas: assaltos, perda de documentos, acidentes, doenças súbitas, são o "gatilho" para deflagrar uma avalanche de sentimentos de inadequação, frustração, ambivalência, que culminam com dificuldades cada vez mais significativas de adaptação, concentração e memória e favorece a instalação de distúrbios de ansiedade, depressão, inclusive a tipicamente "sazonal", entre outros.

As queixas somáticas, tais como dor abdominal, dor de cabeça, náuseas e vómitos ou sintomas cardiovasculares, tais como palpitações, tontura e sensação de desmaio iminente, são também frequentes, bem como relatos de hipersonia, compulsão alimentar, queda de cabelo e pêlos,  desrealização e despersonalização.

É possível ajudar estes jovens a ultrapassar estes quadros, sobretudo com a terapia E.M.D.R, exercícios de relaxamento e psicoterapia breve focal. Somente em algumas situações ou se houver comorbidade, justifica-se a terapia medicamentosa e daí acompanhamento médico.

O apoio e atenção dos colegas é fundamental, estejam atentos! Se observar um colega muito distante, que frequentemente fecha-se no quarto, recusa-se a sair de casa, ou está constantemente a dormir e ingerir alimentos ricos em hidratos de carbono, não virem as costas! Estes são importantes sinalizadores e indicam que esta pessoa precisa de ajuda!


É papel de cada um de nós, das universidades e da sociedade como um todo, proteger os alunos residentes, bem como "acolher", "orientar" e "apoiar" os novos alunos, na perspectiva de uma melhor socialização e adaptação. 

Ana Cristina Saladrigas
Psicóloga - O.P.P n.º 8501
Assistência Psicológica
Secretaria Especial do Gabinete para Assistência a Brasileiros
Consulado-Geral do Brasil no Porto